6 Iniciativas de Energia Solar Revolucionando as Áreas Rurais do Brasil

A energia solar vem transformando a realidade do campo brasileiro, impulsionando a sustentabilidade, reduzindo custos e aumentando a produtividade. Com um potencial solar que supera a média global, o Brasil registrou mais de 35 GW de capacidade instalada em energia solar até 2024, sendo 13% desse total proveniente de sistemas rurais. Apenas em fevereiro de 2025, o país adicionou impressionantes 613,59 MW de capacidade de geração distribuída, com a grande maioria sendo sistemas solares.

Especialistas projetam que até o final de 2025, a potência total de sistemas fotovoltaicos no Brasil alcançará aproximadamente 75,6 GWp, representando 98,3 TWh de energia elétrica – o equivalente a 12,3% de toda a demanda energética nacional. Neste artigo, exploramos seis iniciativas inovadoras que estão levando luz, tecnologia e desenvolvimento a comunidades agrícolas em todo o país.

1. Plano Safra e o Programa RenovAgro: Crédito para Energia Limpa

O Plano Safra 2024/2025 destinou mais de R$ 7 bilhões ao programa RenovAgro, que financia sistemas de energia solar e práticas sustentáveis em propriedades rurais. Em julho de 2024, o Ministério da Agricultura e Pecuária alocou um impressionante total de R$ 508,59 bilhões para apoiar projetos do agronegócio, incluindo linhas de crédito específicas do RenovAgro. Produtores de todos os portes podem acessar taxas de juros reduzidas para instalar painéis fotovoltaicos, recuperar pastagens e adotar técnicas de baixa emissão de carbono.

Benefícios:

• Redução de até 99% na conta de luz.
• Retorno do investimento em 4 a 7 anos.
• Linhas de crédito com prazos de até 10 anos para pagamento.
• Contribuição para a meta brasileira de aumentar significativamente a participação de energias renováveis na matriz energética.

Detalhes do RenovAgro
Recursos Disponíveis	R$ 7 bilhões
Investimento Total do Plano Safra	R$ 508,59 bilhões
Foco	Energia solar e sustentabilidade
Público-Alvo	Pequenos, médios e grandes produtores
Taxa de Juros	A partir de 5% ao ano
Crescimento Projetado	13,47% ao ano (2025-2033)

Caso de Sucesso:

A família Silva, produtores de café em Minas Gerais, investiu R$ 120.000 em um sistema fotovoltaico financiado pelo RenovAgro. Em apenas 18 meses, a economia na conta de energia já ultrapassou R$ 45.000, permitindo que expandissem sua produção e investissem em tecnologias de irrigação mais eficientes.

2. Parcerias com Universidades para Energia Acessível

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) firmou parcerias com a UFRJ, USP e UFSC para desenvolver modelos de energia solar adaptados à agricultura familiar. Paralelamente, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em colaboração com a Cemig e com consultoria da Fraunhofer Chile, está implementando o primeiro projeto agrivoltaico do Brasil. Este projeto pioneiro será instalado no norte de Minas Gerais, combinando produção fotovoltaica com cultivo agrícola.

Detalhes do Projeto Agrivoltaico:

• Instalação inicial em Jaíba (MG) sobre uma plantação de feijão.
• Expansão para mais 10 unidades piloto em municípios como Nova Porteirinha, Patrocínio, Prudente de Moraes e outros.
• Cada unidade contará com plantas fotovoltaicas de 75 KVA e diferentes culturas adaptadas à região.
• Análise tanto da produção de energia quanto do comportamento das culturas (desenvolvimento, produtividade, uso eficiente da água, incidência de doenças).
• Investimento total de aproximadamente R$ 10,5 milhões com pesquisa realizada ao longo de 30 meses.

Projetos em Andamento
Instituições Envolvidas	UFRJ, USP, UFSC, IFMA, Epamig, Cemig, Fraunhofer Chile
Localização dos Pilotos	11 municípios em Minas Gerais
Investimento Total	R$ 10,5 milhões
Duração da Pesquisa	30 meses
Tecnologias Testadas	Painéis sobre culturas, sistemas híbridos
Culturas Estudadas	Feijão, café, frutíferas, hortaliças, flores e grãos

Resultados Esperados:

O projeto pretende desenvolver tecnologias replicáveis para todo o Brasil, incluindo para agricultores familiares. Espera-se aumentar a eficiência do solo e a rentabilidade da produção, expandir a geração de energia renovável e formar profissionais altamente qualificados para implementar novos modelos de negócio.

“O projeto tem potencial para revolucionar o setor, tanto pela nossa vocação para geração solar quanto pela vocação de Minas Gerais para produção agrícola”, afirma Maurício Dall’ Agnese, da Cemig.

3. Sistemas de Irrigação Solar: Economia e Eficiência

A irrigação consome até 30% da energia em propriedades rurais. Sistemas movidos a energia solar, como os da Intelbras e SB Energy, reduzem esse custo em até 95% e garantem água mesmo em regiões remotas. Agricultores brasileiros estão cada vez mais utilizando energia solar para irrigação de culturas, além de ar condicionado, iluminação, bombeamento de água para reservatórios e alimentação de câmaras frigoríficas.

Vantagens:

• Autonomia energética em áreas sem rede elétrica.
• Vida útil dos painéis: 25 anos ou mais.
• Redução significativa no consumo de diesel em fazendas não conectadas à rede elétrica.
• Operação silenciosa e livre de manutenções complexas.
• Funcionamento constante mesmo em períodos de seca ou instabilidade na rede.

Inovação em Armazenamento:

O interesse em sistemas de armazenamento com baterias aumentou significativamente nos últimos meses, com projetos tornando-se viáveis após uma queda acentuada nos preços das baterias. Esses sistemas:

• Garantem irrigação noturna sem dependência da rede.
• Fornecem backup em caso de quedas de energia.
• Reduzem as perdas associadas a interrupções no fornecimento de eletricidade.
• Permitem aproveitamento máximo da energia gerada durante o dia.

Comparativo: Irrigação Tradicional vs. Solar
Custo Mensal	R$ 1.500 (tradicional) vs. R$ 75 (solar)
Manutenção	Alta (combustíveis) vs. Baixa
Impacto Ambiental	Emissão de CO₂ vs. Zero emissão
Vida Útil do Sistema	8-10 anos vs. 25+ anos
Operação em Áreas Remotas	Difícil vs. Simples
Custo de Implementação	Baixo (inicial) vs. Médio (retorno rápido)

Caso Real:

O grupo agrícola Bom Futuro, grande produtor de grãos e oleaginosas no estado do Mato Grosso, está avaliando o uso de baterias como meio de reduzir perdas associadas a quedas de energia. Segundo Livio Costa, gerente de energia da Bom Futuro, a interrupção no fornecimento de eletricidade prejudica máquinas de algodão e a produção, causando perdas materiais significativas:

“Digamos que a energia acabe por 15 minutos, levará até duas horas para retomar a produção novamente”, afirma. “Isso não acontece apenas uma vez. Acontece algumas vezes durante a colheita.”

4. Comunidades Solares: Energia Compartilhada no Campo

O modelo de comunidades solares permite que produtores rurais compartilhem a energia de usinas fotovoltaicas sem instalar painéis em suas propriedades. No Ceará, por exemplo, agricultores dividem os benefícios de uma usina de 1,2 MW. Este estado tem emergido como líder em energia solar, sendo inclusive escolhido para sediar o Congresso Mundial Solar 2025 na capital Fortaleza, reconhecendo seu pioneirismo no setor.

O projeto CCampo, uma iniciativa inovadora desenvolvida em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), permite que agricultores instalem painéis solares em terras cultiváveis, utilizando as áreas simultaneamente para cultivo e geração de energia. Esta tecnologia não apenas torna o uso da terra significativamente mais eficiente, mas também oferece a oportunidade de reduzir os custos de eletricidade das empresas agrícolas e criar uma fonte auxiliar de renda.

Como Funciona:

• Geração centralizada em usinas solares.
• Redução de até 40% na conta de luz dos participantes.
• Aumento da renda dos produtores rurais através de contratos de arrendamento.
• Melhoria da qualidade de vida em comunidades rurais através do acesso a energia confiável.
• Cultivo agrícola sob os painéis, maximizando o uso do espaço.

Benefícios Sociais:

• Geração de empregos locais para instalação e manutenção dos sistemas.
• Fortalecimento da economia local com novas oportunidades de negócio.
• Democratização do acesso à energia limpa para pequenos produtores.
• Redução do êxodo rural através da modernização do campo.

Exemplo de Comunidade Solar
Localização	Ceará
Capacidade	1,2 MW
Beneficiários	150 propriedades rurais
Economia Média por Família	40% na conta de energia
Área de Cultivo Mantida	85% da área total
Culturas Compatíveis	Hortaliças, grãos e frutíferas de pequeno porte

5. Projetos de Grande Escala: Energia Solar em Fazendas Comerciais

Grandes propriedades agrícolas estão investindo em sistemas fotovoltaicos de larga escala para atender à crescente demanda de energia para secagem e armazenamento de grãos e processamento intensivo de algodão. Estes investimentos refletem a tendência de integração entre produção agrícola e geração energética, criando fazendas autossuficientes e resilientes.

Características dos Projetos de Grande Escala:

• Sistemas com capacidade superior a 1 MW para atender granjas, frigoríficos e usinas de processamento.
• Integração com sistemas de automação agrícola e internet das coisas (IoT).
• Uso de tecnologias de ponta como seguidores solares (trackers) que acompanham o movimento do sol.
• Potencial de exportação de energia excedente para a rede, gerando receita adicional.

Financiamento e Incentivos:

• Linhas de crédito específicas para projetos de grande escala com taxas atrativas.
• Redução de impostos para equipamentos de energia renovável.
• Programas de certificação de energia limpa valorizando a produção agrícola sustentável.
• Parcerias com empresas de energia para desenvolvimento de projetos híbridos.

Projetos de Grande Escala
Investimento Médio	R$ 4-8 milhões por MW
Capacidade Típica	1-5 MW por propriedade
Economia Anual	R$ 600.000-3.000.000
Área Necessária	1-2 hectares por MW
Tempo de Instalação	3-6 meses
Período de Retorno	4-6 anos

Caso Exemplar:

Uma fazenda produtora de grãos no oeste da Bahia instalou um sistema de 2,4 MW que atende toda a demanda energética da propriedade, incluindo sistemas de irrigação, secadores de grãos e instalações de processamento. O investimento de R$ 9,6 milhões foi financiado pelo Plano Safra com prazo de 8 anos, e a economia anual de energia ultrapassa R$ 1,8 milhão.

6. Expansão do Agronegócio com Energia Fotovoltaica

O agronegócio é o terceiro maior segmento em energia solar no Brasil, com 250 mil sistemas instalados até 2024. As propriedades rurais representam aproximadamente 14% de toda a energia solar instalada no Brasil, com 4,8 gigawatts distribuídos através de pequenas estações fotovoltaicas, frequentemente construídas em telhados ou terras não utilizadas.

A capacidade solar na agricultura cresceu mais de sete vezes desde 2020, quando projetos de fontes renováveis decolaram em todo o país. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, o número de unidades consumidoras rurais que utilizam painéis solares saltou para 471.000 no final de 2024, contra 54.000 quatro anos antes.

Dados Recentes:

• Crescimento de 63% nas instalações rurais entre 2021 e 2022.
• 5,1 GW de potência instalada no campo.
• Mercado de energia solar no Brasil projetado para atingir US$ 7,21 bilhões em 2025, mantendo uma Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) de 13,47% de 2025 a 2033.

Tendências de Expansão:

• Sistemas híbridos combinando solar, eólica e biomassa para maior estabilidade.
• Microredes inteligentes gerenciando a distribuição de energia em comunidades rurais.
• Sistemas flutuantes instalados sobre reservatórios de irrigação e açudes.
• Aplicações móveis para monitoramento remoto da produção de energia.
• Integração com veículos elétricos e maquinário agrícola.

Crescimento por Estado (2025)
Minas Gerais	3,5 GW
Mato Grosso	1,2 GW
Rio Grande do Sul	2,4 GW
Bahia	2,1 GW
Ceará	1,8 GW
Goiás	1,5 GW

Desafios e Soluções:

Apesar do crescimento expressivo, o setor ainda enfrenta desafios como o acesso limitado à rede elétrica em áreas remotas e a intermitência da geração solar. Para superar estas barreiras, empresas estão investindo em:

• Sistemas avançados de baterias para armazenamento energético.
• Redes inteligentes capazes de gerenciar fontes diversas de energia.
• Programas de capacitação técnica para instalação e manutenção.
• Desenvolvimento de equipamentos resistentes a condições climáticas adversas.
• Plataformas de energia compartilhada para pequenos produtores.

Conclusão

A energia solar está redefinindo o futuro das zonas rurais brasileiras. Desde o financiamento acessível do Plano Safra até tecnologias inovadoras de irrigação e projetos agrivoltaicos pioneiros, essas iniciativas combinam sustentabilidade e eficiência econômica. Com 95% de economia na conta de luz e retorno garantido do investimento, a adoção de sistemas fotovoltaicos no campo deve crescer 70% até 2030.

O crescimento exponencial dos últimos anos – com um aumento de sete vezes na capacidade instalada desde 2020 e mais de 471.000 unidades consumidoras rurais utilizando painéis solares – demonstra que a revolução solar no campo brasileiro está apenas começando. As projeções indicam que até 2025, os sistemas fotovoltaicos representarão aproximadamente 12,3% de toda a demanda de energia elétrica do país, consolidando o Brasil como potência em energia solar.