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7 Investimentos Chave na Infraestrutura Digital de Moçambique

Moçambique está em plena transformação digital, com avanços significativos que estão mudando a paisagem tecnológica do país. Apesar de apenas 32% da população ter acesso à internet em 2021, conforme destacado pelo Banco Mundial, o governo moçambicano, parceiros multilaterais e investidores privados estão unindo esforços para acelerar a implementação de programas de transformação digital.

Este artigo explora os sete investimentos mais importantes que estão impulsionando a infraestrutura digital de Moçambique, criando novas oportunidades para empresas e cidadãos.

1. O Projeto de Governança e Economia Digital (EDGE) do Banco Mundial

Em 2021, o Banco Mundial aprovou uma doação de 150 milhões de dólares para apoiar o Projeto de Governança e Economia Digital de Moçambique, conhecido como EDGE. Este projeto representa um pilar fundamental na estratégia de transformação digital do país.

O EDGE visa melhorar os serviços públicos digitais e expandir as oportunidades de negócios digitais em Moçambique. Os principais componentes do projeto incluem:

  • Expansão da conectividade governamental.
  • Aumento do acesso à identificação civil (certificados de nascimento e carteiras de identidade).
  • Melhoria dos serviços governamentais, tanto analógicos quanto digitais.
  • Integração do setor privado no ecossistema digital.

Uma parte significativa do financiamento está direcionada para a criação de infraestrutura tecnológica essencial e assistência técnica. O governo moçambicano planeja implementar sua estratégia de transformação digital através de projetos focados em conectividade, governança eletrônica e inclusão do setor privado.

Componentes do Projeto EDGE

Componente Descrição Benefícios
Conectividade Governamental Melhoria da infraestrutura de internet em todo o país Serviços públicos mais eficientes e acessíveis
Identificação Civil Digital Digitalização de serviços como emissão de identidade e certidões Acesso facilitado aos documentos essenciais
Serviços Digitais Plataformas como SIGAV para agendamento de serviços e e-VISA Redução da burocracia e melhoria no atendimento
Integração do Setor Privado Criação de estrutura regulatória para investimentos Novas oportunidades de negócios digitais

O projeto EDGE representa uma oportunidade significativa para empresas tecnológicas que podem fornecer equipamentos, treinamento e serviços de consultoria para apoiar os esforços de digitalização do governo.

2. O Centro de Dados Raxio em Moçambique

O Grupo Raxio, parte da empresa de investimentos americana Roha Group, inaugurou recentemente seu primeiro centro de dados em Moçambique, marcando um marco importante na infraestrutura digital do país.

O Raxio MZ1, localizado no Parque Industrial de Beluluane (MozParks) nos arredores de Maputo, é o primeiro centro de dados certificado Tier III do país. Este centro oferece 3MW distribuídos em 2.000 metros quadrados, com capacidade para até 400 racks.

Este investimento faz parte da estratégia de expansão do Grupo Raxio na África, que inclui um investimento total de 290 milhões de dólares no mercado de infraestrutura digital do continente. A empresa já possui instalações ativas em Uganda e Etiópia, com projetos em desenvolvimento na Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Tanzânia e Angola.

Os benefícios deste centro de dados incluem:

  • Suporte ao crescimento da economia digital de Moçambique.
  • Avanço da agenda de transformação digital do governo.
  • Criação de um hub de conectividade e troca digital.
  • Já conta com oito das principais operadoras de telecomunicações e provedores de conectividade do país.

Características do Centro de Dados Raxio MZ1

Característica Detalhes
Localização Parque Industrial de Beluluane (MozParks), Maputo
Certificação Tier III (Uptime Institute)
Capacidade 3MW em 2.000 m²
Racks Até 400
Sustentabilidade Mais de 80% da eletricidade de fontes renováveis
Operadoras Conectadas 8 principais operadoras de telecomunicações

Robert Mullins, CEO do Grupo Raxio, destacou: “Estamos orgulhosos de abrir o primeiro centro de dados Tier III, pronto para hiperescala de Moçambique, e estamos entusiasmados em ser uma pedra angular crítica no apoio ao crescimento da economia digital em evolução do país”.

3. Cabo Submarino 2Africa: Conectando Moçambique ao Mundo

O cabo submarino 2Africa, liderado pela Meta (antiga Facebook), representa um investimento transformador na conectividade internacional de Moçambique. Este cabo, que é o maior cabo submarino do mundo com 45.000 km, está projetado para conectar 33 países com 46 pontos de aterragem na África, Europa e Ásia.

Em fevereiro de 2023, o cabo 2Africa aterrou em Maputo, Moçambique. Este cabo está sendo hospedado na nova instalação da iColo (empresa pertencente à Digital Realty) na capital. Uma segunda aterragem está prevista mais ao norte, em Nacala, provavelmente em parceria com a unidade local da Vodacom.

O projeto 2Africa é uma colaboração entre várias empresas globais de telecomunicações, incluindo:

  • Meta.
  • Telecom Egypt.
  • China Mobile International.
  • MTN GlobalConnect.
  • Orange.
  • STC.
  • Vodafone.
  • West Indian Ocean Cable Company (WIOCC).

A fabricação e implantação deste cabo de 180 Tbps está sendo realizada pela Alcatel Submarine Networks (ASN), com conclusão prevista para 2024.

Detalhes do Cabo Submarino 2Africa em Moçambique

Aspecto Detalhes
Pontos de Aterragem Maputo (concluído) e Nacala (planejado)
Capacidade 180 Tbps
Parceiros Meta, Telecom Egypt, China Mobile International, MTN GlobalConnect, Orange, STC, Vodafone, WIOCC
Instalação em Maputo Centro de dados iColo MPM1
Benefícios Melhoria significativa na conectividade internacional e redução de custos
Data de Conclusão Prevista 2024

Este investimento é fundamental para melhorar a conectividade de banda larga em Moçambique, que continua a se desenvolver graças a investimentos-chave como o Consórcio Land2Africa (apoiado pela Meta).

4. A Estação Terrestre Starlink em Moçambique

A Starlink, serviço de internet via satélite da SpaceX, estabeleceu uma nova estação terrestre em Moçambique, representando um avanço significativo para a conectividade na África Austral. Esta expansão ocorre em um momento em que a Starlink enfrenta diversos desafios regulatórios na África.

A nova estação terrestre em Moçambique tem o potencial de melhorar significativamente a velocidade e confiabilidade da internet na região. Atualmente, os usuários da Starlink em países como Zâmbia e Zimbábue experimentam latência mais alta – às vezes entre 200ms e 300ms – porque seus dados precisam viajar até a estação terrestre mais próxima na Nigéria.

A experiência anterior da Starlink no Quênia, onde a empresa lançou uma estação terrestre no início de 2024, demonstrou o impacto positivo que estas instalações podem ter. Se Moçambique observar resultados semelhantes, os usuários da África Austral podem esperar uma experiência muito mais fluida ao jogar online, assistir streaming ou realizar operações comerciais.

Impacto da Estação Terrestre Starlink em Moçambique

Aspecto Detalhes
Localização Moçambique (cidade específica não divulgada)
Data de Ativação Final de março de 2024
Benefícios Principais Redução da latência, melhoria na velocidade e confiabilidade
Países Beneficiados Moçambique, Zâmbia, Zimbábue e potencialmente África do Sul (via roaming)
Comparação Redução esperada da latência de 200-300ms para valores muito menores
Posição de Mercado Líder em internet via satélite na África, operando em 19 de 54 países

A entrada da Starlink no mercado moçambicano já provocou uma redução nos preços de dados oferecidos pelas empresas incumbentes, beneficiando os consumidores com serviços mais acessíveis. Além disso, a empresa planeja conectar áreas rurais do país que anteriormente não tinham acesso à internet de alta velocidade.

5. Parque Maluana e Centros de Dados Governamentais

O Governo de Moçambique opera o Parque Maluana e outros quatro centros de dados no país como parte de sua estratégia de governança eletrônica. O Parque Maluana foi estabelecido para centralizar e hospedar os sistemas de computação da administração pública do governo.

Nos últimos anos, Moçambique testemunhou um número crescente de lançamentos de centros de dados geridos por empresas privadas. Embora empresas internacionais como Amazon Web Services (AWS), Heroku e Microsoft Azure ofereçam serviços de nuvem para Moçambique, elas não operam seus próprios centros de dados no país.

A infraestrutura de centros de dados em Moçambique está evoluindo rapidamente, com o governo reconhecendo a importância destes investimentos para sua estratégia digital.

Centros de Dados em Moçambique

Centro de Dados Tipo Propósito Status
Parque Maluana Governamental Centralizar sistemas de computação da administração pública Operacional
Outros 4 centros governamentais Governamental Suporte a operações do governo Operacionais
Raxio MZ1 Privado Serviços comerciais Tier III Recém-inaugurado
Futuros centros em Mocuba e Nacala Governamental Expandir infraestrutura digital para o norte Planejados

O Governo de Moçambique também planeja estabelecer dois novos centros de dados no norte do país, especificamente em Mocuba e na cidade de Nacala. Estes centros serão fundamentais para reduzir a disparidade digital entre as regiões norte e sul de Moçambique.

Atualmente, o tráfego de dados é mais caro para transportar fora de Maputo, o que resulta em serviços de dados mais caros no norte do país em comparação com o sul. Os novos centros de dados ajudarão a reduzir esta diferença de custo e melhorar o acesso digital em todo o país.

6. Estratégia Nacional de Cibersegurança

Com a crescente digitalização de Moçambique, a cibersegurança tornou-se uma prioridade fundamental para proteger infraestruturas críticas e dados sensíveis. O Governo de Moçambique identificou a cibersegurança como um segmento prioritário para o processo de transformação digital do país.

A Estratégia Nacional de Cibersegurança de Moçambique tem como objetivo implementar 25 projetos até 2025 e estabelecer um conselho multissetorial com o mandato de coordenar uma estrutura de governança. Esta estratégia está sendo impulsionada por várias iniciativas:

  • O Instituto Nacional de Tecnologia de Informação e Comunicação (INTIC) lidera a consulta sobre a proposta de Lei sobre Segurança Cibernética e Crimes Cibernéticos.
  • O Instituto Nacional de Governo Eletrônico (INAGE) e as redes moçambicanas de pesquisa e educação (MoRENET) estabeleceram equipes de resposta a incidentes de segurança informática (CSIRTs) cobrindo instituições acadêmicas e públicas.
  • O governo começou a incluir requisitos mínimos de cibersegurança como parte de todos os contratos de aquisição pública.

A transição digital de Moçambique é impulsionada pelo setor privado e exige soluções terceirizadas como criptografia para acesso à rede, sistemas de prevenção de intrusões (IPS), ameaças persistentes avançadas (APT), segurança contra phishing por e-mail e treinamento em cibersegurança.

Iniciativas de Cibersegurança em Moçambique

Iniciativa Responsável Objetivo Prazo
Estratégia Nacional de Cibersegurança Governo de Moçambique Implementar 25 projetos e estabelecer conselho multissetorial 2025
Lei sobre Segurança Cibernética e Crimes Cibernéticos INTIC Criar marco legal para cibersegurança Em andamento
CSIRTs INAGE e MoRENET Responder a incidentes de segurança em instituições acadêmicas e públicas Estabelecidos, requerem assistência técnica
Requisitos mínimos de cibersegurança Governo Incluir em contratos de aquisição pública Em implementação
Centro de pesquisa para tráfego de internet (CATI) Nacional CIRSTs Estabelecer CIRSTs setoriais e criar rede nacional Planejado

Existe uma demanda crescente para manter e proteger infraestruturas críticas e prevenir interrupções de produtividade. Os National CIRSTs visam estabelecer CIRSTs setoriais, desenvolver uma rede nacional e criar um centro de pesquisa para tráfego de internet (CATI).

7. Plano Diretor de Conectividade Rural e Vilas Digitais

Um dos desafios mais significativos para a transformação digital de Moçambique é a grande disparidade de conectividade entre áreas urbanas e rurais. O Ministério dos Transportes e Comunicações de Moçambique afirma que mais da metade da população não pode pagar por serviços de internet ou dispositivos eletrônicos. Além do preço, o acesso é um problema nas áreas rurais porque não há sinal móvel ou de banda larga.

Para enfrentar esse desafio, o governo moçambicano anunciou um plano diretor de conectividade rural para aumentar a conectividade em áreas mal atendidas. Desde 2020, o governo tem construído várias praças digitais com internet gratuita em todo o país.

O conceito de vilas digitais está no centro desta estratégia, visando melhorar a conectividade e o acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em áreas rurais. Este esquema de infraestrutura é complementado por outros projetos liderados pelo Ministério dos Transportes e Comunicações e pelo Banco Mundial que visam o acesso à internet em áreas rurais, todos a serem implementados até 2028.

Iniciativas de Conectividade Rural em Moçambique

Iniciativa Descrição Período de Implementação Responsáveis
Plano Diretor de Conectividade Rural Estratégia para expandir internet em áreas rurais Em andamento até 2028 Governo de Moçambique
Vilas Digitais Infraestrutura para melhorar conectividade e acesso às TIC Em implementação Ministério dos Transportes e Comunicações
Praças Digitais Espaços públicos com internet gratuita Desde 2020 Governo de Moçambique
Projetos de Acesso Rural Extensão de infraestrutura de internet para áreas remotas Até 2028 Ministério dos Transportes e Comunicações e Banco Mundial

Estas iniciativas são cruciais para reduzir a divisão digital em Moçambique e garantir que os benefícios da transformação digital sejam acessíveis a todos os cidadãos, independentemente de sua localização geográfica.

Impacto e Futuro da Infraestrutura Digital em Moçambique

Os sete investimentos-chave na infraestrutura digital de Moçambique discutidos neste artigo estão transformando fundamentalmente o panorama tecnológico do país. Juntos, eles criam uma base sólida para o crescimento digital acelerado nos próximos anos.

O aumento da competição no mercado de tecnologia de informação e comunicação (TIC) permitiu que 9 milhões adicionais de moçambicanos obtivessem acesso à banda larga móvel. Os benefícios econômicos associados são estimados em até 370 milhões de dólares, o que representa 2,7% do PIB total criado em Moçambique durante o período de 2012-2019.

Moçambique tem o custo de internet móvel mais baixo na África Subsaariana (1,97 dólares por gigabyte), e a penetração de telefones móveis está em 46% da população. As melhorias nos elementos fundamentais de transformação digital, combinadas com o apoio às startups e empresas existentes, podem ajudar a economia moçambicana a aproveitar dados digitais e tecnologias modernas.

Um dos principais desafios para o futuro é a formação de profissionais moçambicanos nestes novos paradigmas, tanto a nível empresarial quanto universitário. Centros de treinamento estão capacitando jovens moçambicanos em automação inteligente, inteligência artificial, cibersegurança e análise de dados.

Perspectivas Futuras para a Infraestrutura Digital de Moçambique

Área Situação Atual Perspectiva Futura
Conectividade Rural Grande disparidade entre áreas urbanas e rurais Redução da divisão digital através de vilas digitais e novas tecnologias
Serviços Governamentais Digitalização em andamento (e-VISA, SIGAV) Expansão para mais serviços e maior adoção
Centros de Dados Novas instalações privadas e governamentais Aumento da capacidade e expansão para o norte do país
Cibersegurança Estratégia nacional em implementação Fortalecimento das defesas e criação de capacidade local
Tecnologia 5G Preparativos iniciais Implementação e expansão nos próximos anos
Competências Digitais Falta de profissionais qualificados Aumento de programas de formação e capacitação
Regulamentação Quadros regulatórios em desenvolvimento Implementação completa de regulamentos para cibersegurança, computação em nuvem e comércio eletrônico

O esforço conjunto do governo moçambicano, multilaterais, setor privado e investidores institucionais será fundamental para viabilizar os projetos de infraestrutura existentes e aumentar a velocidade de implementação dos programas de transformação digital.

Se os diversos atores envolvidos conseguirem enfrentar os desafios, que incluem a formação de pessoal nos novos paradigmas, a implementação de regulamentação bem estruturada e a existência de uma infraestrutura de TIC de suporte, a transformação digital pode se tornar uma poderosa aliada para alcançar o desenvolvimento sustentável no país e, quem sabe, transformar Moçambique em um Hub Digital para a região.

Conclusão

Os sete investimentos-chave na infraestrutura digital de Moçambique representam um momento transformador na história tecnológica do país. O Projeto de Governança e Economia Digital do Banco Mundial, o centro de dados Raxio, o cabo submarino 2Africa, a estação terrestre Starlink, o Parque Maluana e os centros de dados governamentais, a Estratégia Nacional de Cibersegurança e o Plano Diretor de Conectividade Rural estão criando alicerces sólidos para um futuro digital inclusivo.

Embora existam desafios significativos, particularmente na redução da divisão digital entre áreas urbanas e rurais e no desenvolvimento de habilidades digitais na população, o momento atual é de grande otimismo. As parcerias entre o governo, organizações internacionais e o setor privado estão acelerando a transformação digital de Moçambique.

À medida que estes investimentos continuam a se materializar, Moçambique está posicionado para se tornar um líder regional em economia digital, criando novas oportunidades para seus cidadãos e empresas. O futuro digital de Moçambique está sendo construído hoje, através destes investimentos estratégicos em infraestrutura digital.