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Como a indústria agrícola de Angola está se tornando mais autossuficiente?

Angola, um país com imenso potencial agrícola, está dando passos significativos em direção à autossuficiência alimentar. Com terras férteis abundantes e recursos hídricos favoráveis, o governo angolano implementou várias estratégias para reduzir a dependência de importações e fortalecer a produção nacional. Este artigo explora como Angola está transformando seu setor agrícola para alcançar a autossuficiência alimentar nos próximos anos.

O Panorama Atual da Agricultura em Angola

Angola possui um dos maiores potenciais agrícolas da África Austral, com aproximadamente 57,4 milhões de hectares de terras agrícolas, incluindo mais de 5 milhões de hectares de terras aráveis. Apesar deste enorme potencial, apenas 5,9 milhões de hectares foram cultivados na temporada 2020-2021.

Atualmente, a agricultura contribui com cerca de 14,9% do PIB de Angola (dados de 2023) e emprega a maior parte da força de trabalho do país, especialmente nas áreas rurais. Embora o setor petrolífero domine o PIB nacional, a agricultura é vital para a segurança alimentar e redução da pobreza.

Em 2022, Angola gastou aproximadamente 3 bilhões de dólares em importações de alimentos, demonstrando a necessidade urgente de aumentar a produção local para reduzir essa dependência externa.

Panorama do Setor Agrícola Angolano

Indicador Valor Ano de Referência
Contribuição para o PIB 14,9% 2023
Tamanho do mercado agrícola USD 15,69 bilhões 2025 (estimativa)
Terras agrícolas disponíveis 57,4 milhões de hectares 2023
Terras cultivadas 5,9 milhões de hectares 2020-2021
Gastos com importação de alimentos USD 3 bilhões 2022
Crescimento projetado do setor 8,40% 2025

Metas de Autossuficiência Alimentar

O governo angolano estabeleceu metas ambiciosas para alcançar a autossuficiência alimentar. De acordo com o Ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, Angola prevê atingir a autossuficiência alimentar até 2027. Esta meta é considerada “alcançável” através da implementação de programas de produção de cereais, pecuária e pesca.

O Ministro da Agricultura e Pescas, Francisco de Assis, afirmou que Angola pode alcançar a autossuficiência alimentar em 5 anos, se resolver problemas relacionados ao capital humano, logística e acesso ao mercado. Com base nos indicadores do setor, ele destacou que até 2022 o país poderia alcançar três milhões de toneladas em cereais e 13 a 14 milhões de toneladas em raízes e tubérculos.

Angola já está mostrando progresso em algumas áreas. Por exemplo, o país está posicionado entre os maiores produtores de mandioca e banana da África. Além disso, as fábricas locais estão prontas para produzir óleo de cozinha suficiente para abastecer o país, eliminando a necessidade de importação deste produto.

Metas de Autossuficiência por Categoria

Categoria Meta de Produção Prazo
Cereais (total) 3 milhões de toneladas 2022
Raízes e tubérculos 13-14 milhões de toneladas 2022
Autossuficiência alimentar completa Redução significativa de importações 2027
Milho Autossuficiência 2025
Óleo de cozinha Autossuficiência Em processo

Principais Culturas e Produção Agrícola

A agricultura angolana é diversificada, com foco em cereais, tubérculos, leguminosas e frutas. O milho é o cereal mais importante do país, com cerca de 1,2 milhão de hectares em produção, principalmente por pequenos agricultores (95% da produção). A produção de milho aumentou significativamente após 2012-2013, atingindo aproximadamente 2,3 milhões de toneladas.

Angola também se destaca na produção de mandioca, sendo um dos maiores produtores africanos. Outras culturas importantes incluem banana, sorgo, trigo, arroz, painço, soja, girassol, amendoim, feijão e café.

No entanto, Angola ainda enfrenta um grande desafio em termos de produtividade. O rendimento por hectare é significativamente menor em comparação com outros países africanos, indicando um grande potencial para melhorias nas técnicas agrícolas e uso de tecnologia.

Principais Culturas e Produção em Angola

Cultura Área Cultivada Produção Características
Milho 1,2 milhão de hectares 2,3 milhões de toneladas Produzido principalmente por pequenos agricultores
Mandioca Dados não especificados Entre os maiores da África Cultura de subsistência importante
Banana Dados não especificados Entre os maiores da África Potencial para exportação
Cereais (diversos) Dados não especificados Em crescimento Inclui trigo, sorgo, painço, arroz
Oleaginosas Dados não especificados Em crescimento Inclui soja, girassol, amendoim

Investimentos e Iniciativas Governamentais

O governo angolano tem priorizado o setor agrícola nos últimos cinco anos, promovendo o agronegócio para reduzir a dependência de mercados externos. Diversos programas e investimentos foram implementados para impulsionar a produção agrícola nacional.

No orçamento proposto para 2025, o governo angolano destinou 105 bilhões de kwanzas (cerca de USD 115 milhões) para apoiar a campanha agrícola 2024/2025. Esta alocação significativa reflete o compromisso de Angola em impulsionar a produção agrícola, com foco no fornecimento de insumos, equipamentos e financiamento para empresas de agricultura familiar.

Um dos principais projetos é o Projeto de Desenvolvimento da Agricultura Comercial de Angola (PDAC), cofinanciado pelo Banco Mundial e pela Agência Francesa de Desenvolvimento. Este projeto visa incentivar os empréstimos bancários para a agricultura, ajudando produtores e pequenas e médias empresas a preparar e financiar investimentos agrícolas, fornecendo assistência técnica, subsídios e garantias de crédito parcial.

Além disso, através do Ministério da Agricultura e Florestas, o governo elaborou um plano de ação voltado para mais de um milhão de famílias agrícolas. Esta iniciativa inclui a distribuição de fertilizantes, sementes de alta qualidade e ferramentas e equipamentos agrícolas essenciais para aumentar a produtividade e a segurança alimentar.

Principais Iniciativas e Investimentos Governamentais

Iniciativa Orçamento/Investimento Objetivo
Campanha Agrícola 2024/2025 105 bilhões de kwanzas Apoiar produção agrícola familiar
Projeto PDAC Não especificado Incentivar empréstimos bancários para agricultura
Plano de Ação para Agricultura Familiar Parte do orçamento 2025 Apoiar mais de 1 milhão de famílias agrícolas
Distribuição de Ferramentas 222.371 ferramentas adquiridas Equipar pequenos agricultores
Fábrica de Fertilizantes (Soyo) USD 2,2 bilhões (investimento privado) Produção de ureia granulada até 2026

Desafios para Alcançar a Autossuficiência

Apesar do progresso e dos investimentos, Angola ainda enfrenta diversos desafios para alcançar a autossuficiência alimentar. O Ministro da Agricultura identificou três áreas principais de dificuldade: capital humano, logística e acesso ao mercado.

A falta de profissionais qualificados no setor agrícola é um problema significativo. O governo reconhece deficiências em termos de capital humano e está trabalhando para preparar e treinar estes profissionais.

O acesso a fertilizantes e seu alto custo representam outro grande desafio. Angola necessita de um mínimo de 60.000 toneladas de fertilizantes anualmente, mas o preço é proibitivo para muitos agricultores familiares, com um saco de fertilizante sendo vendido a 30.000 kwanzas e um saco de ureia a 20.000 kwanzas.

As mudanças climáticas também representam uma ameaça significativa para a produção agrícola em Angola. Segundo relatórios, a maioria das províncias é suscetível aos efeitos das mudanças climáticas, esperando-se uma diminuição da produção em muitas regiões. Secas e eventos climáticos extremos têm impactado negativamente a segurança alimentar, com até 1,5 milhão de pessoas enfrentando insegurança alimentar aguda severa no início de 2025.

Outros desafios incluem infraestrutura precária para transporte e armazenamento, altas taxas de inflação e preços elevados de alimentos.

Principais Desafios e Possíveis Soluções

Desafio Impacto Possíveis Soluções
Falta de capital humano Baixa produtividade Programas de treinamento e capacitação
Acesso limitado a fertilizantes Rendimentos reduzidos Fábrica nacional de fertilizantes (em construção)
Mudanças climáticas Redução da produção em várias províncias Variedades resistentes à seca, irrigação
Infraestrutura deficiente Dificuldades de escoamento e armazenamento Investimento em estradas e armazéns
Altos preços de insumos Menor acesso para pequenos agricultores Subsídios, compras coletivas
Inflação Custos de produção elevados Estabilização econômica

Principais Empresas e Atores do Setor

O setor agrícola angolano conta com várias empresas integradas verticalmente que desempenham papéis importantes no desenvolvimento da agricultura comercial. Essas empresas estão investindo em toda a cadeia de valor, desde a produção até o processamento e distribuição.

Carrinho é uma empresa familiar angolana totalmente integrada na indústria alimentar, gerenciando todas as etapas da cadeia de valor: originação, transporte, armazenamento (capacidade de estocagem de 100.000 toneladas de cereais e 55.000 m³ de produtos de óleo vegetal bruto), fabricação e distribuição. A empresa possui dezessete fábricas capazes de processar arroz, trigo e milho, além de fornecer insumos e suporte técnico aos agricultores.

Nova Agrolider é outra empresa verticalmente integrada que desempenha um papel fundamental no setor agrícola angolano.

Gesterra (Gestão de Terras Aráveis) é uma empresa estatal criada em 2006 com o mandato de gerenciar projetos agrícolas de grande escala, particularmente na área de cereais. O foco está em quatro culturas principais: milho, soja, arroz e feijão. O principal papel da Gesterra é identificar terras para produção agrícola e atribuir o título de “reserva estratégica do estado”.

Um consórcio de empresas angolanas planeja investir 2,2 bilhões de dólares em uma empresa industrial de fertilizantes em Soyo, com conclusão prevista para 2026. A instalação será projetada para produzir ureia granulada.

Principais Empresas e Seus Projetos

Empresa Tipo Atividades Principais
Carrinho Empresa familiar integrada Processamento de arroz, trigo, milho; fornecimento de insumos
Nova Agrolider Empresa verticalmente integrada Produção e processamento agrícola
Gesterra Empresa estatal Gestão de projetos agrícolas de grande escala (milho, soja, arroz, feijão)
Consórcio para fábrica de fertilizantes Investimento privado Produção de ureia granulada em Soyo (conclusão em 2026)
Embrapa, Bras Africa, Casa do Fazendeiro Fornecedores de insumos Fornecimento de tecnologia e insumos agrícolas

Projeções Futuras e Oportunidades

O futuro do setor agrícola angolano parece promissor, com projeções de crescimento significativo nos próximos anos. De acordo com estimativas de mercado, o tamanho do mercado agrícola de Angola está avaliado em 15,69 bilhões de dólares em 2025 e deve atingir 20,61 bilhões de dólares até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5,6%.

O setor agrícola angolano está projetado para crescer 8,40% em 2025, evidenciando o papel crítico do investimento governamental no aumento da produtividade e na promoção da estabilidade econômica nas comunidades rurais.

A diversificação econômica através da agricultura é uma prioridade para o governo angolano, que vê o setor como fundamental para reduzir a dependência do petróleo. Investimentos em infraestrutura, técnicas agrícolas modernas e acesso ao financiamento estão ajudando a revitalizar o setor, que foi fortemente impactado por décadas de conflito civil.

Há oportunidades significativas em áreas como agricultura de precisão e agricultura inteligente, que podem ajudar a superar desafios como as mudanças climáticas e a baixa produtividade. A verticalização da produção, integrando cultivo, processamento e distribuição, também representa uma oportunidade para agregar valor aos produtos agrícolas angolanos.

Projeções de Crescimento por Segmento

Segmento Projeção de Crescimento Oportunidades
Mercado agrícola total USD 20,61 bilhões até 2030 (CAGR 5,6%) Investimento em toda cadeia de valor
Cereais Crescimento significativo esperado Aumento da produtividade, processamento local
Oleaginosas Potencial para autossuficiência Produção de óleo para consumo nacional
Agricultura familiar Mais de 1 milhão de famílias beneficiadas Acesso a insumos e tecnologias
Agroindústria Expansão significativa Processamento local, redução de importações
Fertilizantes Produção local a partir de 2026 Redução de custos, aumento da disponibilidade

Conclusão

Angola está claramente em um caminho promissor para alcançar a autossuficiência alimentar nos próximos anos. Com vastos recursos naturais, investimentos governamentais significativos e uma estratégia clara de desenvolvimento agrícola, o país tem todos os elementos necessários para transformar seu setor agrícola e reduzir a dependência de importações de alimentos.

Os esforços para diversificar a economia angolana, afastando-se da dependência do petróleo e fortalecendo o setor agrícola, representam uma visão estratégica importante para o futuro do país. A meta de autossuficiência alimentar até 2027 é ambiciosa, mas alcançável com a continuidade dos investimentos atuais e a superação dos desafios existentes.