8 Tradições de Pesca Únicas nas Aldeias da Guiné Equatorial
As aldeias costeiras da Guiné Equatorial guardam segredos milenares ligados ao mar, onde a pesca não é apenas uma atividade económica, mas uma herança cultural profundamente enraizada. Desde técnicas ancestrais transmitidas por gerações até rituais que celebram a conexão com o oceano, estas tradições revelam um equilíbrio único entre homem e natureza.
Neste artigo, exploramos oito práticas de pesca que definem a identidade das comunidades locais, mergulhando em histórias, dados e curiosidades que ilustram a riqueza deste património.
1. Pesca com Canoas Tradicionais (Cayucos)
As canoas de madeira, conhecidas como cayucos, são o símbolo máximo da pesca artesanal na Guiné Equatorial. Construídas manualmente com troncos de árvores locais, como o okoumé, estas embarcações são projetadas para navegar em águas calmas e turbulentas com igual destreza.
Características Principais:
Aspecto | Detalhe |
Material | Madeira de okoumé ou outras árvores tropicais. |
Técnica de Construção | Esculpida manualmente, com proa afiada para cortar ondas. |
Uso Moderno | Ainda predominante em aldeias como Mbini e Cogo. |
Os pescadores utilizam redes de emalhar e linhas com anzóis artesanais, muitas vezes feitos de espinhos de palmeira. A pesca com cayucos é frequentemente realizada em grupo, fortalecendo os laços comunitários.
Dados Adicionais:
- Um estudo da FAO revela que 50% do consumo de peixe no país depende da pesca artesanal, onde os cayucos são essenciais.
- A proibição histórica da pesca durante o regime de Macias (1969-1979) quase extinguiu esta prática, mas a resistência das comunidades costeiras garantiu sua sobrevivência.
2. Pesca Noturna com Tochas
Nas aldeias litorâneas, como as da ilha de Corisco, a pesca noturna é iluminada por tochas feitas de fibras vegetais e resina. Esta técnica atrai peixes como a sardinha e o carapau, que são capturados com redes de cerco.
Dados Interessantes:
- As tochas são preparadas com casca de árvore e óleo de palma.
- A luz atua como isca, criando um espetáculo visual único sob o céu estrelado.
- Tradição associada a rituais de gratidão aos antepassados.
Impacto Ecológico:
- Esta método evita a sobrepesca, pois captura apenas espécies atraídas pela luz, preservando ecossistemas marinhos.
- Espécies como o Distichodus mbiniensis, descoberto recentemente no Rio Benito, são protegidas por práticas tradicionais.
3. Pesca de Subsistência nas Ribeiras
Nas regiões continentais, como Río Muni, as mulheres desempenham um papel central na pesca de subsistência em rios e estuários. Utilizando cestos trançados e armadilhas de bambu, capturam espécies como o bagre e a tilápia.
Técnicas Comuns:
Método | Descrição |
Cestos Trançados | Feitos com fibras de ráfia, deixados em correntes para capturar peixes. |
Armadilhas de Bambu | Estruturas fixas que direcionam os peixes para áreas de captura. |
Dados Socioeconómicos:
- Mulheres representam 37% da captura doméstica de peixe, contribuindo para a segurança alimentar de 90% das famílias rurais.
- A tilápia (Oreochromis niloticus) e o bagre (Clarias gariepinus) são vitais para a dieta proteica local, especialmente em comunidades pobres.
4. Rituais de Bênção das Redes
Antes da temporada de pesca, muitas comunidades realizam cerimónias para abençoar as redes e garantir uma colheita abundante. Os anciãos lideram cantos e danças, invocando a proteção dos espíritos do mar.
Elementos do Ritual:
- Oferecimentos de frutas e peixes aos antepassados.
- Utilização de máscaras tradicionais representando divindades aquáticas.
- Participação de toda a aldeia, reforçando a coesão social.
Conexão Cultural:
- Entre os Ndowe, estes rituais incluem danças com tambores que narram histórias de pescadores lendários, fortalecendo a identidade tribal.
- A FAO reconhece estas práticas como parte do património imaterial ligado à pesca sustentável.
5. Pesca Sustentável com Tarrafas
A tarrafa, uma rede circular lançada manualmente, é amplamente utilizada nas aldeias costeiras. Esta técnica é valorizada por sua seletividade, evitando a captura de espécies juvenis.
Vantagens:
- Reduz o impacto ambiental.
- Permite a libertação de peixes não comercializáveis.
- Popular em regiões como a ilha de Bioko.
Contexto Atual:
- Com o mercado de frutos do mar do país projetado para crescer 8,78% ao ano até 2030, a tarrafa ganha relevância como alternativa à pesca industrial.
- Em 2025, estima-se que o setor gere US$ 187,86 milhões, impulsionado por demandas por sustentabilidade.
6. Pesca Cooperativa com Redes de Arrasto
Em comunidades como as do povo Ndowe, grupos de pescadores colaboram para arrastar redes grandes até a praia. Esta prática, conhecida como xávega (termo adaptado de origens lusófonas), é comum durante a época das chuvas, quando cardumes se aproximam da costa.
Organização:
- Homens dividem-se em equipas para puxar as redes.
- Mulheres e crianças ajudam na triagem e transporte do pescado.
- Parte da captura é distribuída equitativamente entre os participantes.
Dados Económicos:
- A receita do mercado de peixe fresco deve atingir US$ 110,13 milhões em 2025, impulsionada por práticas colaborativas.
- 60% do peixe consumido em áreas urbanas vem destas redes comunitárias.
7. Pesca de Camarão com Armadilhas de Vime
Nas águas salobras dos mangais, armadilhas feitas de vime são colocadas para capturar camarões e caranguejos. Estas estruturas, chamadas nassa, são verificadas diariamente ao nascer do sol.
Factos Relevantes:
- Técnica praticada há mais de 500 anos.
- Os mangais são protegidos como áreas de reprodução de espécies.
- Fonte de renda para famílias em aldeias como Bata.
Biodiversidade:
- Os manguezais da Guiné Equatorial abrigam 12 espécies de camarão, incluindo o Penaeus notialis, vital para a exportação.
- Projetos governamentais, como o PASPA, visam aumentar a produção aquícola para 4.091 toneladas até 2030.
8. Festivais de Pesca e Colheita
Festivais anuais celebram a relação entre as comunidades e o mar. O Festival do Peixe, em Mbini, inclui competições de pesca, danças tradicionais e pratos típicos como o pepe-sup (sopa de peixe picante).
Atividades Principais:
Evento | Descrição |
Competições de Pesca | Avaliam habilidades em técnicas como lançamento de redes. |
Feira Gastronómica | Pratos à base de peixe fresco, lobster e banana-da-terra. |
Danças Ritualísticas | Performances que contam histórias de pescadores lendários. |
Culinária Tradicional:
- O pepe-sup é preparado com pimenta malagueta, tomate e peixe fresco, simbolizando a fusão entre terra e mar.
- Restaurantes em Malabo destacam lagosta grelhada, contribuindo para o turismo gastronómico.
Conclusão
As tradições de pesca da Guiné Equatorial são um testemunho vivo da harmonia entre o ser humano e os ecossistemas marinhos. Enquanto o mundo avança para técnicas industrializadas, estas aldeias mantêm práticas sustentáveis que merecem reconhecimento e preservação. Ao visitar estas comunidades, não se surpreenda se for convidado a partilhar uma refeição à beira-mar – é a generosidade de um povo que há séculos retira do oceano não apenas alimento, mas também identidade.